Uma tecnologia que pode ser usada no reconhecimento de vítimas de um desastre natural, no controle de fraudes em compras e na localização de crianças perdidas num shopping. Esse é o OpenBR, uma biblioteca algorítmica capaz de identificar pessoas escaneando seus rostos, e que foi apresentada na 16ª edição do Fórum Internacional Software Livre (FISL), em Porto Alegre.
Desenvolvida por Alessandro “Cabelo” Faria (sócio da OITI Technologies), a tecnologia é capaz de realizar a chamada biometria facial, que "enxerga" o rosto da pessoa e pode tirar conclusões a partir da leitura. Faria ensinou a operacionalizar o algoritmo durante a sua palestra no FISL. Se antes isso fazia parte apenas de ficções como O Exterminador do Futuro, prepare-se: a partir de agora vai fazer do seu cotidiano.
A diferença do OpenBR para outras tecnologias de biometria facial é que ele é livre e gratuito, ou seja, qualquer programador pode usar o código e até modificá-lo. Uma tecnologia biométrica livre, aliada a uma nova geração de smartphones, tablets e notebooks com câmeras 3D – como o Dell Venue 8 7000, que chega em breve ao Brasil -, deve causar uma revolução nas tecnologias de certificação, nas senhas de login até no uso de cartões.
Aplicações
O OpenBR foi originalmente desenvolvido para proteger as pessoas de fraudadores. “As quadrilhas estão tão sofisticadas que são capazes de roubar uma identidade e refazê-la perfeitamente, só mudando a sua foto”, explica Faria.
Para combater esse tipo de crime, ele usou o OpenBR para desenvolver o Certiface, software que cria um banco de dados com os rostos de todos os clientes que utilizam as lojas. Desse modo, um cliente que já tenha feito um cartão numa loja ou supermercado não pode fazer novos cadastros, mesmo que tenha vários documentos de identidade falsos.
Outro ponto interessante é que todas as lojas usuárias do Certiface compartilham o mesmo banco de dados e o alimentam colaborativamente com novos registros de clientes. Se alguém for pego como fraudador, fica o registro para todas. O Certiface já é usado pelas lojas Paquetá Calçado e está em processo de adoção em outras companhias.
Faria elenca outros usos para a biometria facial. Ele lembra, por exemplo, que a tecnologia foi usada durante os terremotos no Japão em 2011 para reconhecer o corpo de vítimas. Outra utilidade é a substituição de senhas para login por um sistema de reconhecimento do rosto do usuário.
Desse modo, só é preciso ficar na frente da webcam ou câmera do seu dispositivo para logar. Se você vive esquecendo as suas senhas de e-mail, Facebook e outras redes sociais, pode respirar aliviado, a solução está a caminho.
Privacidade
O potencial do OpenBR é gigantesco. Faria conta que o algoritmo consegue reconhecer rostos em multidões. Em testes com 100 pessoas no mesmo quadro, o OpenBR reconheceu 99 dos rostos. Aliado a uma câmera 3D, o programa não confunde fotos com rostos reais e é capaz de identificar pessoas disfarçadas (com chapéu, óculos ou cabelo diferente).
Agora, imagine se essa tecnologia fosse utilizada no desenvolvimento de um aplicativo que reconhecesse qualquer pessoa por meio da sua foto do Facebook (o que não é tão difícil de desenvolver). Basta um celular com o aplicativo e câmera 3D para saber o nome de quase qualquer pessoa com quem você cruze na rua, sua idade, status de relacionamento, o que curte, o nome da sua mãe e irmãos…
Faria, porém, não liga muito para as críticas quanto a violação de privacidade: ele acha que essa já é uma discussão superada. “As críticas eram bem comuns de 2003 a 2007, mas com o Facebook, smartphones e selfies as pessoas se acostumaram a exibir a sua imagem”, diz. E acrescenta: “A tecnologia pode ser usada para o bem ou para o mal. Eu acredito que a biometria facial pode fazer mais coisas para o bem.”