SP imita FBI para cadastrar digitais de 6 milhões de criminosos desde 1900

 A Polícia Civil de São Paulo está usando o mesmo método de identificação digital adotado pelo FBI (Federal Bureau of Investigation ou Agência Federal de Investigação dos Estados Unidos) para recuperar, cadastrar e arquivar num computador impressões dos dedos que 6 milhões de criminosos deixaram em papéis amarelados desde o início do século 20, quando começaram a ser fichados no estado.

A digitalização dos documentos criminais começou a ser feita em setembro pelo Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt (IIRGD), da polícia. A estimativa de término é de seis meses. O objetivo é abastecer um banco de dados da papiloscopia policial (área responsável por analisar e comparar digitais) para dar mais celeridade às investigações e ajudar na elucidação de crimes em São Paulo.

Um programa de computador, no mesmo molde do usado pelo FBI, deverá aposentar 24 bancadas de madeira laranja, chamadas de aparelhos de pesquisa decadactilar. Sob os cuidados do IIRGD, no centro da capital paulista, elas ainda guardam todas as fichas criminais do estado do começo dos anos de 1900. O G1 visitou o local neste mês.
 
Adquirido em fevereiro deste ano pelo governo paulista por R$ 30 milhões – num pacote que inclui também a modernização do registro geral (RG) –, o software Afis (Automated Fingerprint Identification System ou Sistema de Identificação Automatizada de Impressões Digitais) leva menos de um minuto para informar se uma digital suspeita pertence a um criminoso fichado na sua base de dados. Pelo método tradicional, consultando ficha por ficha das bancadas, esse trabalho pode levar até 3 horas.
 
Como é: bancadas de madeira
 
Introduzidas na década de 1940, as bancadas já começaram a ser desativadas. Treze delas já podem virar peças de museu. As demais continuam funcionando. Elas guardam o acervo histórico do instituto, dos primeiros aos últimos criminosos.
 
As mesas de madeira têm desde as digitais do italiano Gino Meneghetti, famoso ladrão de casas de 1914 a 1968, passando pelas de Chico Picadinho, que em 1966 esquartejou uma bailarina estrangeira, até as impressões dos dez dedos do ex-médico Roger Abdelmassih, preso em agosto, condenado a 278 anos por estupros.
 
“Nós temos aqui 37 máquinas que abrigam prontuários criminais. E cerca de 6 milhões de pessoas que foram indiciadas em inquéritos policiais ficam nesses arquivos”, disse o delegado Roberto Avino, diretor do IIRGD.
 
Essas 37 máquinas sumirão do instituto. Estamos digitalizando os prontuários dentro delas, que são fichas criminais desde 1902. Tem dados de criminosos como Chico Picadinho até esse último, de criminosos de cunho internacional, como [Roger] Abdelmassih”, completou Avino.
 
Feitos com válvulas e movidos a manivelas, os aparelhos de pesquisa decadactilar são operados por papiloscopistas policiais, que acionam botões para girar um cilindro repleto de fichários com digitais de criminosos. A função desses profissionais consiste em comparar essas impressões cadastradas com suspeitos de crimes, cadáveres não identificados e pessoas desconhecidas.
 
O trabalho ainda é arcaico. Os papiloscopistas usam uma lupa para checar as marcações das digitais nas papeletas. Apesar de cada digital ser única e não haver duas iguais, o estudo da datiloscopia do início do século 20 mostrou que existem alguns padrões. A partir disso, as digitais são separadas em grupos. A Scotland Yard (polícia de Londres) foi uma das primeiras polícias no mundo a adotar o sistema.
 
“A maior satisfação é quando identificamos um cadáver carbonizado a partir da sua digital”, disse a papiloscopista Edna Keiko, que, assim como os demais colegas de trabalho, irá trocar os aparelhos de pesquisa decadactilar pelo computador.
 
Como será: computadores
 
Testes no Afis demonstraram a eficácia do programa de computador em identificar uma digital. “O Afis usado em São Paulo é praticamente o mesmo modelo adotado pelo FBI nos Estados Unidos”, disse o delegado José Brandini Jr., do IIRGD.