Setor de serviços concentra metade dos empregos produzidos no DF

O setor de prestação de serviços é considerado a espinha dorsal da economia de Brasília. As mais importantes estratégias para o desenvolvimento do Distrito Federal passam por esse segmento, que atualmente emprega 51% da população ocupada e responde por 93% do Produto Interno Bruto (PIB) local. Embora dominante, o segmento ainda se encontra estagnado e oferece itens de baixo valor agregado, como gastronomia e cuidados de beleza e saúde, por exemplo. Para 2022, o desafio é transformar o quadrinho em um polo de serviços de alto valor agregado. Tecnologia, biotecnologia, logística e outras especialidades que envolvem alto grau de conhecimento estão entre as opções viáveis para o DF do futuro.

A necessidade de Brasília e suas cercanias investirem pesado em serviços é histórica e tem razões estruturais. Com território pequeno e protegido por restrições de uso relativas a áreas de manancial e reservas ecológicas, o Distrito Federal não tem a opção de praticar agricultura extensiva ou sediar um parque industrial de grande porte.

Com uma população de alto poder e um mercado consumidor crescente — hoje são 1,6 milhão de consumidores; até 2022 chegarão mais 600 mil, conforme a série “Brasília 2022” mostrou ontem —, o setor de serviços tem grande potencial de crescimento. Para o consultor de varejo Alexandre Ayres, da Neocom, migrar das atividades básicas para aquelas mais especializadas é o próximo passo natural para o DF. “A gente tem capital humano e cliente. Não tem como imaginar qualquer solução para a economia que não seja no setor de serviços, e tem que ser de alto valor agregado”, defende.

Ayres elenca alguns segmentos nos quais a capital federal tem chances de ser bem-sucedida. “A gente tem condições de criar um polo tecnológico. Também poderíamos nos voltar para a biotecnologia, uma vez que temos os laboratórios da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em nosso território. O turismo de negócios e eventos é uma outra opção. Existem várias vocações em Brasília”, destaca.

Ferrovia sucateada
Na avaliação do consultor, por sua posição geográfica central, o DF poderia tornar-se ponto de partida para a distribuição logística na região Centro-Norte. No entanto, em razão da falta de investimentos, a atribuição foi apropriada por Anápolis (GO), a 139 quilômetros da capital federal. “Temos uma ferrovia sucateada, que há anos não é plenamente utilizada”, diz Ayres, referindo-se à estrutura que passa pelo Porto Seco do Distrito Federal, em Santa Maria. Entre outras deficiências, a estrada de ferro não conta com maquinários de grande porte para efetuar a descarga de volumes.

Dentre os vetores de desenvolvimento, tecnologia e turismo são os que vêm recebendo mais atenção das políticas públicas e sendo alvo de investimento do setor privado. A opinião é do presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio-DF), Adelmir Santana. No primeiro caso, ele destaca a proposta, que finalmente começa a sair do papel, de implantação da Cidade Digital, um polo que irá concentrar indústrias de softwares e serviços de tecnologia da informação (TI).

Quanto ao turismo, Brasília tem investido em seu potencial para atrair eventos. Favorecida por sua localização, traçado urbano e pelo fato de ser sede do poder público e de representações internacionais, tem lançado-se em campanhas para conquistar de congressos médicos a encontros diplomáticos. Além disso, vai sediar jogos da Copa das Confederações em 2013 e da Copa do Mundo de 2014, o que servirá para alavancar o segmento. Para Santana, o sucesso de estratégias do tipo dependerá do envolvimento dos empresários e da vontade política do atual governo e dos próximos. “O futuro tende a ser esse, mas vai depender de iniciativas governamentais”, opina.

Cliente
O presidente da Associação Brasileira de Tecnologia em Identificação Digital (Abrid), Célio Ribeiro, destaca que o DF tem “uma vocação natural” para os serviços tecnológicos. “A capital reúne todas as características de um local para ter esse tipo de mercado. As empresas estão junto do governo, um dos maiores demandantes, e é uma atividade que exige somente inteligência, podendo ser feita em espaços pequenos”, diz. Ele elogia propostas como a da Cidade Digital, mas cobra agilidade. “Tem levado muito tempo para sair do papel e virar realidade”, critica.

Diretor de marketing da XTI, empresa que cria portais corporativos, Antônio Márcio Arício Carvalho conhece o peso do poder público como usuário dos serviços de assistência tecnológica. “Já atendemos a grandes clientes privados, mas o principal consumidor ainda é o governo”, diz. De acordo com ele, a empresa deve continuar crescendo a partir das demandas da administração pública. “O governo ainda precisa melhorar bastante sua interface com a sociedade. Para isso, precisa de ferramentas que facilitem a interação. Hoje, na Inglaterra, já existem aplicativos para telefone para os interessados em baixar dados sobre o poder público. São oportunidades que os mercados do Brasil e do DF podem explorar”, acredita.

O consultor Alexandre Ayres avalia como positiva a interação dos prestadores de serviços tecnológicos com os governos federal e distrital. Entretanto, chama a atenção para a necessidade de o Distrito Federal reduzir a dependência de sua economia dos recursos da administração pública. “O DF tem desconcentrado gradualmente esse peso, mas precisa trabalhar ainda mais nisso. Enquanto o dinheiro vai jorrando da máquina pública, fica tudo bem e vai-se procrastinando as soluções. Mas, em um cenário de enxugamento de gastos por parte do Estado, a economia de Brasília ficará prejudicada”, declarou ele, defendendo que a atual situação, com 50% da massa salarial nas mãos dos servidores — que correspondem a 22% da força de trabalho empregada — não é a ideal.