Giulia Santos Camillo
Com um aumento de 21,6% no lucro líquido e de 9,8% no Ebitda (geração operacional de caixa), a Valid (VLID3) – antiga ABNote – viu no terceiro trimestre o “melhor resultado do ano de 2010”. As cifras alcançaram R$ 25,9 milhões e R$ 44,8 milhões, respectivamente, enquanto a receita subiu de R$ 185,8 milhões para R$ 194,9 milhões.
Em entrevista à InfoMoney, o diretor de Finanças e de Relações com Investidores da Valid, Carlos Affonso D´Albuquerque, afirmou que os resultados anteriores não eram considerados satisfatórios pela empresa. Os números atuais, entretanto, “ratificam o que vínhamos dizendo e prometendo”, declarou Affonso, reiterando a meta da empresa de entregar um crescimento de “pelo menos” 10% no Ebitda.
Colocando essa variação sobre o resultado de 2009, chega-se a um número próximo dos patamares pré-crise. “É verdade”, responde o diretor, “mas a companhia de 2010 é muito mais robusta, o portfólio de produtos e serviços é melhor e o downside é menor”, ressalta.
O resultado também foi considerado positivo pela analista Beatriz Battelli, da Brascan Corretora. Em relatório, ela destacou o crescimento na receita consolidada na base trimestral, além dos ganhos nas margens.
Margens
Dentro desse cenário, o principal destaque fica com a margem Ebitda (relação percentual entre receita líquida e geração de caixa) da divisão de Serviços Gráficos, que atingiu 11,9%, acima dos 7,6% vistos no mesmo período do ano passado. Segundo Affonso, esses dois dígitos “são recorrentes e a empresa apenas antecipou uma meta já anunciada no início deste ano”: a de chegar ao final de 2010 com margens acima de 10%.
Nesse sentido, Beatriz Battelli ressalta que a relação entre Ebitda e receita ficou acima das expectativas da Brascan, que giravam em torno de 10% para o segmento de Serviços Gráficos da Valid.
Nas demais divisões, de Cartões e Sistemas de Identificação, as margens foram de 21,1% e 37%, respectivamente, abaixo do reportado um ano antes, de 23,8% e 37,2%.
Volumes em queda nos cartões
Do lado negativo, de acordo com a Brascan, ficou a queda no volume de vendas da divisão de cartões, que caiu 21,7% na passagem anual, atingindo R$ 116,4 milhões. A expectativa da corretora era de R$ 120 milhões.
Segundo o diretor de Finanças e RI da Valid, essa queda pode ser explicada pelo recuo nos segmentos de cartões intuitivos e plásticos, que não pôde ser ofuscada pela alta nos cartões inteligentes. “Em termos de volume, o aumento não foi suficiente e nem nunca será”, afirmou Affonso, destacando, porém, que em termos de faturamento, a expectativa é de que os segmentos de cartões inteligentes eventualmente compensem a queda nas demais áreas.
Serviços gráficos: mudança nos produtos
Na divisão de Serviços Gráficos, além do aumento das margens, a mudança no mix de produtos em direção a um portfólio de maior valor agregado também entra em foco. A empresa presente reduzir a participação de gráfica geral e aumentar o peso dos serviços de impressão eletrônica.
“A troca está sendo feita gradualmente, mas uma troca total pode não ser viável”, explica Carlos Affonso, acrescentando que “a tendência é a impressão eletrônica”, que hoje já é mais forte.
Para o futuro, foco em cartões e ID
Embora hoje tenha pesos bem divididos de cada divisão dentro de seu faturamento – com receitas de R$ 65 milhões, R$ 59,9 milhões e R$ 70 milhões em Cartões, Sistemas de Identificação e Serviços Gráficos – a empresa pretende mudar um pouco o perfil de forma a melhorar as operações.
“Gostaríamos de ter uma menor participação da área de Serviços Gráficos, mas não através da sua redução e sim através do aumento das outras duas”, declarou o diretor de Finanças e RI da Valid. Segundo Affonso, as expectativas para o futuro em relação ao segmento gráfico é manter a margem acima de 10% e ganhar market share.
Já no segmento de Sistemas de Identificação, a empresa pretende focar em adicionar serviços às áreas em que atua hoje.
“Queremos estar perto do cliente e saber do que mais ele pode precisar da Valid”, frisou Affonso.
Em termos de Cartões, até mesmo pela demanda, os segmentos de SIM, smart card e RFID (Radio Frequency Identification), além dos serviços da M4U, serão o foco da empresa. A expectativa é de que, à medida que os bancos migrem para o cartão smart para evitar fraudes, a empresa aumente sua participação. “Queremos ter maior presença”, apontou o diretor, descartando um cenário de esfriamento da demanda.
Além disso, vale lembrar que a partir dos próximos trimestres, a empresa deve ser impactada pela migração dos cartões do Unibanco após a finalização da integração com o Itaú, elevando a demanda por serviços da Valid. Sobre isso, Affonso informou que não pode falar sobre clientes, limitando-se a dizer que o Itaú Unibanco é um “grande cliente importante”.
Fusões e Aquisições
Por fim, a empresa informou no release dos resultados que tem diante de si “algumas oportunidades de investimento”.
Questionado sobre essas oportunidades, Affonso lembrou o histórico da Valid na área de fusões e aquisições, ressaltando que a empresa tem um perfil de avaliação de cada aquisição e de decisões que tragam valor para o acionista.
O resumo é que existem oportunidades no radar, embora não haja nada concreto ainda. Onde são essas oportunidades? Em todos os segmentos em que a empresa atua, segundo Affonso, e em negócios adjacentes ao nosso. Por outro lado, caso não haja propostas alternativas, a empresa pretende usar o caixa disponível em um novo programa de recompra de ações ou em pagamento de dividendos aos acionistas. Vale lembrar que atualmente há um plano de recompra em aberto, enquanto a Valid tem um dividend payout trimestral de 30% do lucro líquido.