Talita Moreira
Nobuhiro Endo tinha apenas dez anos, mas ainda se lembra com detalhes do dia em que o presidente americano John F. Kennedy foi assassinado. Mais que a importância daquele momento histórico, o que impressionou o garoto foi a rapidez com que as notícias viajavam pelo ar e chegavam dos Estados Unidos até os televisores no Japão.
"Me pareceu incrível a possibilidade de receber informações quase instantaneamente. Acho que foi por isso que fui parar na área de satélites", afirma Endo, que desde abril ocupa a presidência mundial da Nec.
A morte de Kennedy acabou tendo o efeito colateral de provocar no menino o gosto pelas comunicações à distância. Décadas mais tarde, lá estava Endo trabalhando com isso. Primeiro, na implantação da rede Iridium – o ambicioso sistema de telefonia móvel via satélite que acabou falindo. Depois, no desenvolvimento de tecnologias para a terceira geração (3G) dos celulares.
Agora, o executivo japonês está olhando mais uma vez para o alto. E para longe. Nobuhiro Endo tem como missão recuperar a importância da Nec no mercado mundial de telecomunicações e tecnologia da informação (TI). "Já fomos uma companhia global, vamos voltar a ser", afirma.
A meta da é ambiciosa: elevar a 50% a participação dos negócios internacionais no faturamento da empresa até 2017. Trata-se de um salto importante. No exercício fiscal encerrado em março, apenas 16% da receita de US$ 43 bilhões obtida pela Nec foi gerada fora do mercado japonês.
Para colocar de pé esse objetivo, a companhia aposta numa inédita descentralização administrativa. Até abril, a Nec passará a ter cinco sedes regionais: Ásia-Pacífico, Europa, China, América do Norte e América Latina. Todas ficarão subordinadas à matriz, em Tóquio.
Se por um lado a estratégia é a expansão geográfica, por outro os planos vão "além das nuvens", como gosta de dizer Endo. A Nec está de olho no mercado de software, serviços e equipamentos que está surgindo na esteira da computação em nuvem.
Isso significa atuar em três níveis. Um deles é propriamente "na nuvem". Ou seja, fornecer a plataforma tecnológica que permita a clientes empresariais e operadoras de telefonia manter seus sistemas e dados hospedados na internet.
Outro foco está nos negócios "acima da nuvem", o que significa hospedar serviços e aplicações que possam ser acessados, por exemplo, pelos assinantes das operadoras. Com a banda larga móvel, as teles vão precisar de mais capacidade para dar vazão ao fluxo de dados, diz Endo. Em fevereiro, a empresa anunciou um acordo desse tipo com a Telefónica.
A terceira frente é atuar "abaixo da nuvem", passo que requer a volta da companhia ao mercado de aparelhos – computadores e celulares inteligentes. "Saímos alguns anos atrás, mas agora a indústria caminha para um padrão tecnológico global [o que cria mais escala de produção]", diz o executivo. Os produtos devem chegar aos Estados Unidos no próximo ano. Não há previsão de lançamento no Brasil, mas Endo afirma que a Nec está em conversa com as operadoras.
A companhia também se prepara para ir além das atividades tradicionais em telecomunicações e tecnologia. Novos negócios, como sistemas de identificação biométrica e energia inteligente, são parte relevante do plano estratégico que a Nec traçou para os próximos anos. "Vamos entrar no mercado de energia por meio das baterias", afirma Endo.
Não por acaso, a empresa firmou uma parceria com a Nissan para desenvolver um carro elétrico e está fazendo testes para armazenar energia eólica em baterias de íon-lítio – inovações que Kennedy jamais poderia haver imaginado.