Em entrevista ao Convergência Digital, Shiniya Kukita, gerente de tecnologia da NEC, falou sobre aquela que a companhia chama de terceira onda da computação em nuvem. Segundo ele, trata-se de uma proposta que envolve o conceito de nuvem máquina a máquina (Machine to Machine, ou M2M, na sigla em inglês) e implicará o uso de aplicativos específicos para indústrias verticais.
"As soluções de infraestrutura, plataforma e software como serviço (IaaS, PaaS, SaaS) serão estendidas a indústrias verticais, com aplicativos específicos oferecidos na modalidade de cloud computing", afirma o especialista em computação em nuvem.
Kukita explica que a primeira onda de cloud computing não envolveu empresas de telecomunicações, nem tampouco grandes fabricantes. Ao invés disso, teve como atores apenas grandes companhias de internet, como Google e Amazon. Ainda nesse cenário, por questões de segurança, as empresas usuárias criaram cloud privadas para garantir o acesso seguro aos dados estabelecidos na nuvem. Aqui a computação em nuvem estava limitada às organizações de grande porte.
A segunda onda foi caracterizada pela entrada das empresas de pequeno e médio portes, que até então não conseguiam acessar os serviços por falta de recursos para criar suas próprias nuvens privadas. Criou-se aqui o conceito de "carrier cloud", que implica a oferta de aplicações genéricas pelas operadoras de telecom às pequenas e médias empresas.
"As operadoras entenderam que podiam aproveitar suas infraestruturas para gerar receita a partir da oferta de aplicativos em nuvem ao SMB. Foi uma forma de torná-los acessíveis também a esse mercado", observa o executivo da NEC.
Agora, a proposta da companhia é que essas operadoras assumam o desafio de levar ao SMB também aplicativos para verticais específicas. As ofertas de cloud iriam além de SaaS (Software como serviço), PaaS (Plataforma como serviço) e IaaS (Infraestrutura como serviço), incluindo também aplicativos específicos para determinadas verticais.
"Elas precisam identificar quais verticais são comercialmente mais interessantes para esse negócio", destaca Kukita. Os aplicativos a serem trabalhados também devem ser analisados: "é preciso considerar a oferta em cloud de aplicativos que estimularão o maior uso de recursos de comunicação, armazenamento e capacidade de processamento", afirma Kukita.
"Assim, ao mesmo tempo em que terão uma nova fonte de receita (com a oferta de aplicativos), as operadoras aumentarão o faturamento de serviços de comunicação, hospedagem e data centers", completa.
Nesse sentido, a grande aposta da NEC para as operadoras estaria na oferta de soluções M2M, que conectariam os equipamentos nos clientes a dispositivos de interface com usuários finais, como paineis de digital signage, celulares, tablets e equipamentos de segurança biométrica.
A ideia aqui, de acordo Kukita, não é entregar os aplicativos como grandes sistemas e implementações, com trabalho de integração. Isso é coisa para as grandes empresas. "A proposta é trazer para o SMB aplicativos específicos de forma mais acessível, através da cloud computing", diz o executivo. "Mas é fundamental que as operadoras estudem quais mercados devem ser alvo de suas iniciativas", alerta.
Em resumo, a companhia acredita que as operadoras podem lucrar – e muito – com a criação de nuvens M2M. Desde que elas entendam que não será uma nuvem genérica de aplicações de máquina a máquina, e sim uma nuvem com demandas específicas para cada vertical. "Não serão aplicações genéricas, como as redes de SMS hoje", insiste.
Kukita acredita que a terceira onda ainda levará algum tempo para ser adotada pelas operadoras na América Latina. Principalmente porque elas hoje já possuem receita garantida sem a necessidade de novos investimentos ou novos conhecimentos. A questão, no entanto, diz o executivo, é que elas podem aumentar expressivamente a receita gerada pela mesma base de usuários.
Na Ásia e na Europa, já há operadoras investindo nessa terceira onda, conta o executivo, revelando que a Telefonica Espanha, que já tem mais de 20 mil clientes dos serviços da segunda onda de cloud, trabalha na adoção da terceira onda.