Por Inês Pereira
A Imprensa Oficial do Estado de São Paulo está prestes a completar 120 anos. Segundo seu presidente, Hubert Alquéres, a empresa centenária vive um grande momento, com vigor e contemporaneidade. Com a Imesp, Alquéres também comemorará oito anos à frente de uma das mais importantes gráficas do país, e da editora que fundou, com 6 mil títulos em catálogo, 21 prêmios Jabuti, 11 menções honrosas no maior prêmio de artes gráficas do mundo, o Premier Print Awards, em Chicago, em 2010.
Idealizador da premiada Coleção Aplauso, com 250 títulos, suas grandes paixões residem na arte e na cultura. Curiosamente, Alquéres tem formação na área de exatas. É formado em engenharia civil pela Escola Politécnica, onde depois foi professor do mesmo curso. Também cursou Física na USP. “São complementos na minha carreira. Estudei Física por causa das matérias de Filosofia e a Engenharia ajudou a me disciplinar”, resume. E na Secretaria de Educação, onde atuou como secretário-adjunto nos governos Mário Covas e Geraldo Alckmin, ele descobriu a veia do gestor. “Você tem que fazer construção e manutenção de escolas, projetos pedagógicos, preocupar-se com equipamentos, informatização, laboratórios. Não foi uma experiência pedagógica, mas de gestão. Na Imprensa Oficial, consegui fazer, de certa forma, uma síntese dessa experiência profissional até aqui”.
A sua formação na área de Educação foi fator decisivo para conduzir a Imprensa Oficial no caminho da valorização da cultura brasileira?
À medida que vamos amadurecendo profissionalmente, vamos colocando o foco nas coisas em que acreditamos. E como a minha área é Educação, pendi para esse viés. Logo no primeiro momento da minha gestão, achei que a Imprensa Oficial deveria ser formalizada como uma editora, já que até então ela era conhecida carinhosamente apenas como ‘a nossa gráfica’. Ela nasceu em 1891, logo depois da Proclamação da República, para dar transparência aos atos da administração. Seu DNA traz um princípio, um valor muito importante: a democratização das ações do governo, dando-lhes perenidade. Com 120 anos de vida, hoje ela é uma empresa mais atual do que nunca, porque transparência é uma das maiores demandas da sociedade. Ela exige que os governos e as administrações públicas sejam transparentes. Então, é uma empresa centenária, mas o princípio é contemporâneo.
Qual a importância da internet para o processo de modernização da Imesp?
A internet, hoje, é um mecanismo muito útil e grande parceiro para quem deseja dar transparência para qualquer que seja a coisa: dá acesso, é rápido, fácil, gratuito. Quando montamos a editora, achei que o objetivo não era publicar poesia, ficção, mas dentro desse princípio da Imprensa Oficial deveriam ser livros que dão perenidade para a nossa história, registram a memória, mas também sejam publicações que façam uma reflexão para o futuro. Hoje talvez o nosso carro- chefe na editora sejam os livros de biografias e os que contam a história do nosso Estado.
Quando você iniciou o projeto de transformação da Imesp, houve crítica da indústria do livro?
Não, até mesmo a Câmara Brasileira do Livro (CBL), que congrega todos os editores do Brasil, nunca opôs qualquer resistência quanto à ideia de a imprensa oficial assumir o papel de editora. Ao contrário, durante minha gestão, recebemos 21 prêmios Jabuti (concedidos pela CBL). Não deixa de ser um reconhecimento dos editores privados da relevância do trabalho da Imprensa Oficial. Um dos fatores muito importantes foi não concorrer com as empresas privadas. Não procuramos Paulo Coelho ou Chico Buarque. Nossa preocupação sempre foi publicar livros com relevância social e de interesse público. A Coleção Aplauso, por exemplo, é uma série de biografias de personalidades do teatro, do cinema e da televisão. Ninguém teve interesse em publicar. Hoje temos mais de 250 títulos lançados, com preços muito baratos (R$ 15, o livro pequeno e R$ 30, o grande) e que têm feito relativo sucesso. A coleção Aplauso também está na internet para download gratuito — você está investindo na ideia e no princípio de contar essas histórias para as pessoas.