Biometria polêmica

 Com quase três meses de operação em Niterói, o sistema de biometria nos ônibus da cidade acumulam avanços no combate a fraudes no uso dos cartões de gratuidades, mas também muitas queixas de passageiros. Segundo o Setrerj (Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro), no mês de junho, houve uma redução do número de passagens gratuitas em 31% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Na média dos dias úteis, foram 105 mil gratuidades no mês passado, uma queda de 47 mil passagens de graça por dia.

“Infelizmente, a gente já tinha a expectativa de que um terço do uso dos cartões de gratuidade eram indevidos e que, com a instalação do sistema, cairia bastante esse número”, afirmou Márcio Barbosa, superintendente do Setrerj. As principais fraudes, segundo Barbosa, eram a utilização dos cartões por pessoas que não tinham o direito. Ele explica que o custo dessas gratuidades indevidas acaba caindo nos passageiros (por meio do cálculo da tarifa que tem de cobrir todas as despesas do sistema) e nos contribuintes, no caso das gratuidades estudantis, que são pagas pela Prefeitura de Niterói.
 
Do outro lado desses números, porém, os passageiros reclamam que o sistema deveria ser mais ágil. A assistente social Dulce Fonseca, de 45 anos, diz apoiar a medida, por já ter visto jovens utilizando os cartões de idosos, mas conta que a exigência está atrasando as viagens. “Na hora do rush, a demora do leitor biométrico atrasa o embarque, principalmente nas linhas mais cheias, como a 49 (Centro – Fonseca)”, lamentou a moradora do Fonseca.
Entre os idosos, a preocupação é outra. “Meu marido levou um tombo, porque, enquanto passava o dedo na máquina, o motorista não esperou e arrancou com o veículo. Agora, eu só entro mostrando a identidade”, contou Maria de Lourdes Silveira, 70. Barbosa, do Setrerj, afirma, no entanto, que não houve aumento dos tempos de viagem por causa do sistema. Ele lembra ainda que, os idosos que preferirem podem entrar mostrando a identidade aos motoristas.
 
Cinco cidades usam medida
 
Além de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Tanguá e Maricá já estão utilizando o sistema de biometria para embarcar os passageiros portadores de gratuidade. Em São Gonçalo, o uso das passagens gratuitas caiu 19% em junho na comparação com o mesmo mês de 2013, passando de 151 mil por dia útil para 122 mil por dia. No município, que tem atualmente 217 mil cartões de gratuidades, 73 mil já foram cancelados desde o início do cadastramento. Do total de cartões
 
Em Maricá, a queda do uso diário de gratuidades foi ainda maior: 46%. O município registrou, em junho, uma média por dia útil de 12 mil passagens gratuitas. No mesmo mês do ano passado, essa média era de 22 mil.
O município de Niterói tem atualmente 156 mil cartões de gratuidades, dos quais 75 mil já foram cadastrados na biometria. Outros 56 mil já foram cancelados desde que começou o cadastramento. O cadastramento das digitais para os portadores de gratuidade pode ser feito no Terminal Rodoviário João Goulart, no Centro de Niterói, além de postos nos municípios de São Gonçalo e Maricá. A adesão nos três municípios onde atua o Setrerj já chegou a 70% dos usuários, com a emissão de cerca de 425 cartões por dia.
 
Dificuldade de idosos faz prefeitura voltar atrás
 
A dificuldade de leitura dos dedos pelos idosos já causou polêmica em Niterói e a prefeitura voltou atrás e desobrigou os idosos a usarem a biometria para garantir a gratuidade. O sistema começou a funcionar em Niterói em 1º de maio e, no mês passado, a prefeitura publicou o decreto 11.671/14, que foi estabelece o direito dos idosos entrarem nos ônibus mostrando a identificação, sem ter de fazer a leitura biométrica. Os demais usuários beneficiados continuam utilizando a biometria.
Aurora Cardoso, de 79 anos, queixou-se também da falta de paciência dos demais passageiros e até motoristas com os idosos. “Chegamos a passar constrangimento, às vezes, com todos nos pressionando. Se é algo para pessoas de idade, deveria ser mais prático. Idoso tem que entrar logo no ônibus para não cair e a biometria dificulta muito”, desabafou.
O casal de aposentados Paulo Cesar da Costa, de 68, e Aurora Maria Franco, de 65, dizem que desistiram da biometria. “É muito arriscado, pois nunca o dedo passa de primeira. Se estou em pé e perco o equilíbrio?”, disse ele. O Setrerj informou que implementou máquinas nos terminais para que os idosos treinem e que as empresas estão investindo fortemente no treinamento dos funcionários.