3M amplia os horizontes

Conhecer a fundo os negócios da 3M não é uma tarefa para principiantes. Com uma receita global de US$ 30,2 bilhões, a gigante americana criadora do Post-it e da fita adesiva Durex oferece nada menos que 55 mil produtos, distribuídos em 26 segmentos. Aos 57 anos, trinta e cinco deles dedicados à companhia, o mexicano Jorge Lopez é uma das poucas pessoas capazes de decifrar  todo esse portfólio. Formado em engenharia química e com passagens por diferentes setores da empresa em sua terra natal, nos Estados Unidos e na Europa, o executivo comanda a subsidiária brasileira da multinacional há exatos dois anos. E é na combinação desse currículo com a diversidade de ofertas que a multinacional deposita suas fichas para superar as adversidades da economia no Brasil. Mais conhecida pela atuação em mercados fortemente impactados pela crise, como o setor automotivo e o de construção, a 3M está adotando um olhar clínico para ampliar sua presença e participação em outros segmentos. “Somos afortunados por ter uma gama tão grande de produtos”, diz Lopez.
 
Bem adaptado ao Brasil e torcedor fanático do Corinthians, ele ainda se esquece, vez ou outra, de algum termo em português. Mas não titubeia quando o tema é a receita para acelerar os negócios no País. “No curto prazo, vamos focar os mercados  mais resilientes”, afirma. Com um investimento local de US$ 27 milhões em 2016, a maior aposta está no segmento de saúde. No setor, a 3M possui ofertas que vão desde estetoscópios e curativos até brakets para aparelhos dentais e soluções de esterilização. Esse mercado movimentou US$ 10 bilhões no Brasil em 2015, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde (Abimed). “O setor se mantém descolado do PIB, em virtude de fatores como o envelhecimento da população e a busca por mais qualidade de vida”, diz Carlos Goulart, presidente da Abimed.  
 
Atenta a esse cenário, a 3M vai ampliar em 10% o time de 460 funcionários dedicados ao setor, especialmente em vendas. “Existem 8 mil hospitais privados que ainda não cobrimos”, diz Lopez. Clínicas, médicos e dentistas também estão no radar. Nessa frente, a empresa está estruturando as vendas em canais de comércio eletrônico e em e-marketplaces, como o Mercado Livre. O segmento de saúde responde por 15% da receita local da companhia, que foi de R$ 3,5 bilhões no Brasil em 2015, ante R$ 3,6 bilhões de 2014. “Nossa meta é elevar essa participação para 20% em três anos.”
 
Outro foco é impulsionar novas fontes de receita. A principal delas é a 3M Services, operação criada em 2014 no Brasil para prestar serviços relacionados ou não aos produtos da companhia. A iniciativa teve origem em um projeto para o Santander, em 2009, que envolveu a troca da identidade visual das agências do recém-adquirido Banco Real. Sob o mesmo enfoque, a 3M será a responsável pela mudança da marca HSBC para Bradesco em mais de 1,2 mil agências de todo o País.
 
 Uma das características tradicionais da 3M, os esforços em inovação seguem entre as prioridades. Com uma verba de 5,6% da receita local, a área tem uma equipe de 160 pessoas e produziu 280 patentes de 2010 a 2015. A divisão é essencial para atingir a meta global da 3M de gerar 40% das receitas com novos produtos. No Brasil, esse índice foi de 28% em 2015. Instalado em em Sumaré (SP) e com 25 laboratórios, o Centro Técnico é a ponte para impulsionar os projetos em parceria com clientes. Um exemplo é uma fita adesiva para embalagens promocionais. Semelhante ao Post-it,  ela pode ser colada e removida, sem danificar a superfície original, além de reduzir os custos em 29%. Criada em conjunto com a Natura, a solução foi incorporada ao portfólio da 3M e tem perspectivas de adoção em outras operações da companhia no mundo.
 
Em tempos de crise, outra vertente que está ganhando corpo são os projetos nos quais a 3M desmonta e remonta um produto e identifica oportunidades para aprimorar a fabricação daquele item. “Temos sido procurados por montadoras e empresas de linha branca interessadas nesse tipo de trabalho”, diz Camila Cruz, diretora de P&D da companhia.
 
Os planos da empresa incluem ainda a modernização das suas oito fábricas no País. A mais nova  foi inaugurada em dezembro, em Manaus, com um investimento de US$ 30 milhões. Em três anos, a projeção é saltar de 200 para 400 profissionais na unidade, que responde por 11% da sua produção no Brasil. Hoje, 70% dos 15 mil produtos da marca no País são fabricados localmente. “Temos tudo o que precisamos”, diz Lopez. “Esse será um ano de execução. Em 2017, nossa expectativa é retomar o crescimento.”